Brasil foi o país não europeu mais mencionado como saída de carregamentos de cocaína durante o período de 2009-2014. Foto: EBC
A quantidade total de cocaína apreendida mais do que duplicou na América do Sul durante o período 1998-2014 (atingindo 392 toneladas), embora dados recentes sugiram uma estabilização desde então, de acordo com relatório divulgado nesta quinta-feira (23) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
No período 2009-2014, a Colômbia foi responsável por 56% de todas as apreensões de cocaína na América do Sul (e mais de um terço de apreensões da droga globalmente), seguida por Equador (10% do total de apreensões na América do Sul), Brasil, Bolívia, Peru (cerca de 7%) e Venezuela (6%).
O aumento das apreensões de cocaína entre 1998-2014 foi particularmente forte no Equador, onde houve uma maior aplicação das leis locais. No Brasil, o aumento foi atribuído a uma combinação de maiores esforços para a aplicação da lei, ao crescente mercado doméstico de cocaína e ao aumento dos carregamentos da droga para mercados externos.
Os países não europeus mais frequentemente mencionados como saída de carregamentos de cocaína durante o período 2009-2014 foram Brasil, seguido por Colômbia, Equador, República Dominicana, Argentina e Costa Rica.
Países da África e da Ásia citaram o Brasil como o principal país de origem da cocaína que chega a esses continentes. Os principais pontos de entrada da cocaína que sai da América do Sul para a Europa foram Espanha, Holanda e Bélgica.
No mundo, o número de usuários de cocaína passou de 14 milhões em 1998 para 18,8 milhões em 2014.
250 milhões de pessoas usaram ao menos uma droga em 2014
O número de pessoas que sofrem de transtornos relacionados ao uso de drogas tem aumentado desproporcionalmente pela primeira vez em seis anos em 2014, enquanto o número de pessoas que usaram drogas pelo menos uma vez naquele ano ficou em 5% da população adulta mundial, de acordo com o relatório anual elaborado pelas Nações Unidas.
O Relatório Mundial sobre Drogas 2016, que examina o impacto na saúde do uso de drogas como opiáceos, cocaína, cannabis, anfetamina e novas substâncias psicoativas, foi divulgado às vésperas do Dia Internacional contra o Abuso de Drogas e Tráfico Ilícito, em 26 de junho.
O documento surge na esteira da sessão especial da Assembleia Geral da ONU sobre Drogas (UNGASS), realizada em abril, que resultou em uma série de recomendações operacionais concretas e marcou um importante momento das políticas antidrogas globais.
O relatório constatou que cerca de 250 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos usaram ao menos uma droga em 2014. Embora este número não tenha crescido ao longo dos últimos quatro anos na proporção da população mundial, o número de pessoas classificadas como sofrendo de desordens decorrentes do uso de drogas superou os 29 milhões, em comparação com 27 milhões do relatório anterior.
Além disso, cerca de 12 milhões de pessoas usam drogas injetáveis, com 14% delas vivendo com HIV. O impacto global do uso de drogas em termos de consequências para a saúde continua a ser devastador, segundo o documento.
De acordo com o diretor-executivo do UNODC, Yury Fedotov, é fundamental que a comunidade internacional se una para garantir que os compromissos adotados na UNGASS sejam atingidos — e o relatório oferece uma ferramenta importante para ajudar nesta tarefa, disse.
“Ao fornecer uma visão abrangente dos principais desenvolvimentos nos mercados de drogas, rotas de tráfico e impacto na saúde, o Relatório Mundial sobre Drogas 2016 destaca apoio às abordagens baseadas em direitos abrangentes, equilibrados e integrados, como refletido no documento final que emergiu da UNGASS”, disse ele, em comunicado de imprensa.
Uso de drogas e consequências na saúde
Enquanto a mortalidade relacionada às drogas manteve-se estável em todo o mundo, ainda havia cerca de 207 mil mortes relatadas em 2014, um número elevado de mortes que poderiam ter sido evitadas caso intervenções adequadas fossem estabelecidas.
O consumo de heroína — e as mortes por overdose relacionadas — parece ter aumentado drasticamente nos últimos dois anos em alguns países da América do Norte e Europa Ocidental e Central. Fedotov observou que, embora os desafios colocados pelas novas substâncias psicoativas continuem sendo uma séria preocupação, “a heroína permanece como a droga que mata mais pessoas e esse ressurgimento deve ser abordado com urgência”.
No geral, os opiáceos continuam a representar os maiores riscos de danos à saúde entre as principais drogas.
A cannabis, por sua vez, continua a ser a droga mais utilizada globalmente, com um número estimado de 183 milhões de usuários em 2014. Ao analisar as tendências dos últimos anos, o relatório mostrou que com a mudança das normas sociais em relação à cannabis — principalmente no Ocidente— o consumo subiu paralelamente à maior aceitação da droga. Em muitas regiões, mais pessoas iniciaram tratamento para transtornos por uso de cannabis ao longo da última década.
O relatório também incluiu novas descobertas relacionadas a pessoas que injetam drogas. Por exemplo, estudos sobre a ligação entre o uso de estimulantes (entre elas novas substâncias psicoativas que não estão sob controle internacional) e o risco de se engajar em comportamentos arriscados que podem resultar em uma maior chance de infecção pelo HIV.
Outras conclusões apontam para elevados níveis de consumo de drogas nas prisões, incluindo o uso de opiáceos e drogas injetáveis. As prisões continuam, portanto, um ambiente de mais alto risco para doenças infecciosas e prevalência de HIV, hepatite e tuberculose. O risco de overdose continua a ser elevado entre os ex-detentos particularmente logo após sua saída da prisão.
O relatório observou ainda que os homens são três vezes mais propensos a usar cannabis, cocaína ou anfetaminas, enquanto as mulheres são mais propensas a se engajar no uso não médico de opiáceos e tranquilizantes. As diferenças entre gêneros podem ser atribuídas à oportunidade de uso de drogas no ambiente social.
Apesar de mais homens usarem drogas, o impacto do uso é maior entre mulheres, porque elas têm menos acesso a cuidados continuados contra a dependência. No contexto familiar, parceiras e filhos de usuários também são mais propensos a serem vítimas de violência relacionada ao uso de drogas.
Problema mundial das drogas e desenvolvimento sustentável
Com 2016 marcando o primeiro ano da adoção dos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o relatório fornece um foco especial sobre essas conexões. Os ODS foram divididos em cinco grandes áreas: desenvolvimento social; desenvolvimento econômico; sustentabilidade ambiental; sociedades pacíficas, justas e inclusivas; e parcerias.
O relatório destacou uma forte relação entre pobreza e vários aspectos do problema das drogas. De fato, os mais pobres sentem mais os efeitos dessa questão, mesmo nos países mais ricos. A forte associação entre desigualdade socioeconômica e transtornos por uso de drogas pode ser vista quando são analisados diferentes aspectos da marginalização e exclusão social, como desemprego e baixos níveis de educação.
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